1995 - 2025
30 anos, uma celebração e uma despedida!
Neste último trimestre de 2025, estou celebrando a conclusão de um ciclo dedicado à fabricação de equipamentos de áudio, em especial caixas acústicas.
Está página seguirá com dois capítulos, sendo:
Produtos realizados e as razões na sua concepção em engenharia e musicalidade.
Depoimento de amigos, clientes, colaboradores na imprensa especializada e nos meios acadêmicos.
Sami Douek
22 de setembro de 2025
Nota pertinente:
A engenharia relacionada é sempre documentada e preservada durante este ciclo, será entregue em 2026 para prosseguir novas edições em fabricação por terceiros, sempre qualificados e credenciados pela marca Auris Lab Brasil.
Primeira caixa Torre BASE C3, franco-brasileira, lançada em 1999
O texto sala 301 é de autoria do Grande Mestre, amigo e musicólogo
(se foi aos 103 anos)
A sala 301 era a nossa, do nosso CLUBE DO ÁUDIO. Não vou falar da revista, todos os leitores a conhecem, nem do Fernando, essa joia de simpatia e educação, dinamo incansável e silencioso que moveu em surdina toda aquela máquina complexa, nem do Eronildes, coordenador do evento, sempre corn urn sorriso nos lábios e papel e caneta na mão, ticando item por item os milhares de que a feira foi feita. são pessoas fora de série, para usar urn lugar-comum. Só para conhecê-los pessoalmente e corn eles conviver uns dias, valeu a pena ter ido ao HI-FI SHOW 96.
(Como veem, minha visão do SHOW foi sobretudo humana. Não foi mecânica nem eletrônica; não ouvi aparelhos, ouvi gente; não fui lá para comprar, fui para trocar idéias. Visto que, por trás do melhor equipamento está sempre o homem. E é este que me interessa.)
E é de um homem de verdade que quero falar a seguir. Ocupava, com os produtos de sua fabricação artesanal, a sala contígua a 301. Refiro-me ao audiófilo, agora transvestido de empresário de produtos de áudio, Sarni Douek, da Hand Crafted Audio Products, nome inglês para dizer fabricante de caixas de alto-falantes. Exibia apenas um dos dois modelos de sua lavra, acho que o CP 60.
(Eu já resolvera, naquela altura, fazer a minha reportagem sobre o HI-FI SHOW 96, tomando o ser humano como leitmotiv. Não que seja contra equipamentos de som e nem tenha nada contra festivais de produtos de áudio. Pelo contrário. Sou audiófilo, em primeiro lugar; só depois é que me assumo musicófilo. Ou pelo menos era essa a ordem. Porque agora, na minha ancianidade, parece que as coisas estão se alterando. O homem por trás das máquinas me interessa sobremaneira. Muito antes delas próprias... Sorry.)
O aspecto algo tragicômico do meu primeiro encontro com o Sami, impressionou-me. Conto-lhes: com a minha soberbia elevada à potência máxima, e mostrando orgulhoso pendurado no bolso da camisa o crachá de "articulista", entrei na sala onde ele exibia os seus produtos. (Entendam o meu pequeno pecado: eu estava sendo muito festejado por alguns visitantes, muito além do que seria lícito esperar.
A generosidade do audiófilo brasileiro é grande demais, tanto quanto o seu amor pela música. E eu estava sendo objeto dela. Há quem resista?)
Prossigo: Entrei na sala e comecei a falar: pontificava do alto dos meus 50 anos de audiófilo experimentador. Pergunta-va, Sanai respondia a esmo; inqueria, Sami olhava-me de soslaio; comentava, Sami balançava a cabeça sem convicção; sugeria, Sumi monossilabar. Com o rabo do olho observei o seu semblante contraído. O que se estaria passando com o homem, indaguei-me. Fiquei inquieto também. Mas, de repente, ele falou. Fez apenas uma pergunta: "- O que o senhor disse?"
Constrangimento de ambos os dois: meu, por tagarelar à-toa, dele, pelo desligamento momentâneo. Que depois explicou: "- Não ouvi nada do que o senhor disse. Estou preocupado com a performance das caixas. Há algo errado com elas. E justo agora! Desculpe-me, senhor".
Desculpei-o. Saí de mansinho. Mas a preocupação, que era dele, passou a ser minha, Audiófilo é assim: solidário nas dificuldades. No dia seguinte voltei. Mostrava-me ansioso. Em vão. Sami Douek recebeu-me com um sorriso nos lábios e muita, muitíssima atenção. Havia descoberto a falha e resolvido o problema dos falantes. O defeito se desenvolverá durante o transporte das caixas para a sala contígua à 301. O som das CP 60 era tão bom como outros que ouvi de alto-falantes importados. E cá o antigo combatente da inesquecível campanha de "o petróleo é nosso", estufou o velho peito cansado de guerra, prenhe de brasilidade. Pensou, feliz: essa plantinha virá no mínimo bosque...
* * *
(Transcrição da revista CLUBE DO ÁUDIO, Nº 8, Dezembro de 1996. Sami Douek em 6 de outubro, 2025)
Em agosto de 1995, um fax foi transmitido ao Rafael Barros (TARKUS) para a primeira apresentação da Torre CP60 (all paper cone)